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Faleceu no dia 11 de abril, aos 73 anos, Josué Mendes Filho. Sua trajetória na UFC foi marcada por cinco décadas de dedicação, ousadia e uma trajetória científica marcante, que muito contribuiu para o crescimento científico da UFC e da física no nordeste brasileiro. Foi um entusiasta e participante ativo nos encontros nacionais da Física da Matéria Condensada e de Físicos do Norte e Nordeste.

Bacharel em Física pela UFC, obteve o título de mestrado em 1973 na UnB e o Doutorado em Física pela UNICAMP em 1984. Josué construiu um currículo robusto, que o colocou certamente entre os maiores pesquisadores do Brasil na atualidade em sua área de pesquisa. Publicou 270 artigos em revistas internacionais, qua atraíram em torno 5000 citações da comunidade internacional, e um fator h=36. Criou escola e formou 3 dezenas de mestres e doutores, esses responsáveis por nucelar grupos de pesquisa no Norte e Nordeste do País. Contribuiu com o ensino, com pesquisa de vanguarda e muito com a gestão universitária, tendo sempre um olhar atento à inovação e aos problemas do Estado do Ceará. Atualmente era Bolsista de Produtividade nível 1A do CNPq e Professor Emérito da UFC. Recebeu vários prêmios merecendo destaque a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico em, 2009, na classe Comendador e o Prêmio Petrobrás de Tecnologia em 2005.

As principais contribuições científicas do Josué foram realizadas no campo da Física do Estado Sólido usando como ferramenta de estudo o espalhamento de luz pela matéria. Ele coordenou e idealizou vários exprimentos em diferentes materiais inorgânicos e orgânicos e contribuiu de forma pioneira para o entendimento das propriedades ópticas, vibracionais e estruturais de diversos materiais. Pelo conjunto da obra científica, Josué foi reconhecido nacionalmente pela Comunidade Brasileira de Espectroscopia Raman, no IV Encontro Brasileiro de Espectroscopia Raman, realizado em dezembro de 2014.

Juiz de Fora, Dezembro de 2015. Josué homenageado pela comunidade no IV Encontro Brasileiro de Espectroscopia Raman

Mesa no EFNNE em Natal, Novembro de 2015. Eudenilson Albuquerque, Liacir Lucena,
Sergio Rezende, Alvaro Ferraz, Josué Mendes Filho

Josué era um sonhador, guerreiro e enfrentava riscos que poucos estavam dispostos a correr. Foi nessa perspectiva que ele liderou com competência agregadora (criando diferentes grupos de pesquisa) e científica o crescimento da física na UFC, destacadamente na consolidação da pós-graduação na década de 90, quando o programa foi avaliado com conceito que margeava a condição de fechamento, e em dois períodos sob sua coordenação, o programa cresceu em passos largos atingindo em menos de uma década o nível de excelência internacional, conceito 6, patamar mantido até os dias atuais. Quando a exerceu a chefia do departamento, a coordenação da pós-graduação e a coordenação de projetos estruturantes, Josué sempre foi dotado de coragem e desprendimento em demasia, sem medir riscos nos combates, chegando, não raro, às raias da inconsequência e do desafio frontal em defesa da universidade e do nordeste.

A aposentadoria compulsória para o Josué teve outro significado, que se traduziu no auge da sua maturidade científica, onde os indicadores de produtividade mostram que a década atual, e seus últimos dias entre nós, foi a mais produtiva (em qualidade) de sua carreira.

A confiança e o apoio incondicional dispensado aos seus estudantes e o entusiasmo a cada resultado obtido no laboratório contagiavam a todos que tinham sua convivência. Merece destaue o seu modelo de orientação, totalmente voltado para a conquista da autonomia científica de seus orientandos. Ele sempre permitia que seus estudantes exercessem de forma plena a proatividade de pesquisador em formação, sempre cultivando e incentivando a iniciativa e a liberdade sem nunca sombreá-los, mas sempre criando, bem à sua maneira, oportunidades e desafios para fazê-los avançar.

Josué será lembrado por seus colegas e amigos devido suas múltiplas facetas, indo desde uma grande capacidade de interpretar resultados com modelos simples, passando por uma franqueza por vezes exagerada, até seu senso de humor que era peculiar.

Antonio Gomes de Souza Filho – UFC