Na semana passada, o presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), Rodrigo Capaz, acompanhado por professores e pesquisadores de diferentes regiões do país, participou de uma série de encontros estratégicos em Brasília. As reuniões aconteceram no dia 26 de maio após a cerimônia no Senado Federal em homenagem ao Dia do Físico, celebrado no dia 19 de maio. Os encontros tiveram como foco principal o fortalecimento das políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e formação de professores.
Os membros da SBF foram recebidos por representantes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de parlamentares comprometidos com a pauta da educação. Entre os presentes, estiveram o professor Domingos Lopes da Silva Junior, secretário estadual da SBF em Goiás e docente da Universidade Federal de Catalão (UFCAT), e Dioni Paulo Pastorio, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e secretário estadual da SBF no RS.
No CNPq, o grupo foi recebido pelo presidente Ricardo Galvão e por Débora Peres Menezes, diretora de Análise de Resultados e Soluções Digitais (DASD). Domingos Lopes aproveitou a ocasião para levar ao centro da pauta a realidade das instituições de ensino e pesquisa localizadas fora do eixo Sul-Sudeste. “Por ser um único representante fora desse eixo, aproveitei para colocar pautas sensíveis às instituições do interior, que enfrentam sérias limitações de infraestrutura”, explica.
Entre as propostas apresentadas, destaca-se a criação de programas específicos de fomento para núcleos emergentes, como bolsas de pós-doutorado destinadas a pesquisadores de regiões mais periféricas. Embora Galvão tenha explicado que as bolsas de pós-doc passam por auditoria e procuradoria rígidas, demonstrou sensibilidade à questão e sugeriu a retomada do edital de primeiros projetos do CNPq, voltado a cientistas que ainda não tiveram propostas aprovadas.

“No CNPq, eu destaco a importância que o Ricardo Galvão, diretor do CNPq, demonstrou em relação a projetos de levar os nossos estudantes em locais como CERN, valorizando e ampliando esse projeto, especialmente relacionando com o Mestrado Nacional Profissional de Física (MNPEF), na figura do professor Nelson Studart, que também nos acompanhava”, afirma Dioni. “Acredito que esse tenha sido um ponto que valorize bastante a questão da formação do professor no ensino de física. Ao trazer esse professor que está sendo formado dentro do mestrado profissional e, a partir disso, trazer ele para outras experiências, especialmente esse estágio de formação na Europa, junto ao CERN, é algo extremamente importante.”
Reestruturação de programas
Na CAPES, o encontro foi com o presidente substituto e diretor de Avaliação, Antonio Gomes de Souza Filho, o diretor de Educação a Distância, Antonio Amorim, e coordenadores de programas de bolsas. Domingos Lopes deu continuidade à pauta da interiorização e apontou limitações de acesso ao programa Pé-de-Meia, voltado a estudantes de licenciatura, dentro da iniciativa “Mais Professores para o Brasil”.

“O programa, do jeito que foi colocado, acabou não beneficiando as universidades com campus no interior. Exige nota alta no Enem, mas a procura por esses cursos já é baixa. Então nossos alunos, em sua maioria, ficaram de fora”, explicou. A equipe da CAPES se comprometeu a repassar a demanda à coordenação responsável e abriu espaço para contribuições futuras, já que o programa ainda está em formulação.
Dioni Pastorio reforçou a importância da valorização das secretarias estaduais dentro da estrutura da SBF. “A SBF vem fomentando o protagonismo regional, levando a pauta da valorização do locus estadual para dentro da entidade”, afirmou. Em sua fala, Dioni destacou um dado alarmante: no Rio Grande do Sul, menos de 30% dos professores que ensinam física na educação básica são formados na área. “Isso nos leva a defender com ainda mais força projetos como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), criado em 2008, que ainda não se constitui como política de Estado, o que o torna vulnerável a cortes orçamentários.” Segundo ele, o PIBID precisa ser fortalecido com recursos de custeio, e não apenas com bolsas, já que também promove a formação continuada de professores da educação básica.
Diálogo com o Parlamento
Além das instituições de fomento, os representantes da SBF estiveram com parlamentares. Domingos Lopes encontrou-se com a assessoria do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que se mostrou sensível à causa e manifestou estar à disposição para dialogar e buscar soluções para mais investimentos na área da Educação. Já a Deputada Adriana Accorsi (PT-GO) recebeu o professor Domingos em seu gabinete e também manifestou forte interesse em destinar recursos para a Universidade Federal de Catalão. “Estamos pensando em estratégias para que a deputada possa contribuir com os cursos de licenciatura, especialmente os de física. Boas notícias podem vir daí”, disse Domingos.
Já Dioni Pastorio esteve com a assessoria dos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Flávio Arns (REDE-PR), além do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT-RS). Arns, que preside atualmente a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, se mostrou disposto a receber propostas sobre ensino e pesquisa em física. A assessoria de Paim agendou reuniões com sua equipe no RS para aprofundar as demandas da SBF. “Destaco especialmente a conversa com o deputado Bohn Gass, que vai apoiar o edital da SBF voltado a eventos estaduais”, contou Dioni.



Segundo Dioni, o deputado se comprometeu a destinar verbas de emenda parlamentar para ações da SBF no Rio Grande do Sul, incluindo seis eventos de física a serem realizados da capital ao interior. “Esses eventos abrangem desde o Ensino de Física até mecânica quântica e têm como objetivo aproximar os estudantes da educação básica do universo da ciência e tecnologia.”
Experiências estaduais como inspiração
Tanto em Goiás quanto no Rio Grande do Sul, as secretarias estaduais da SBF têm investido em ações de divulgação científica e aproximação com a sociedade. Domingos mencionou projetos como o “Pátio da Ciência”, que recebe estudantes da rede pública no Instituto de Física da UFG, e a “Experimentoteca”, voltada à visitação escolar na Universidade Federal de Catalão. “Temos também atividades aprovadas como a Semana da Física, em Catalão e na Universidade Estadual de Goiás. E em Trindade, há um projeto coordenado pela professora Kelly que busca incentivar a participação de meninas na ciência”, relatou.
Os representantes da SBF também destacaram o papel simbólico da sessão especial no Senado pelo Dia do Físico. “É importante reconhecer não só a profissão, mas a ciência como um todo. Foi um ato relevante de divulgação científica. Esperamos que o Congresso tenha mais iniciativas como essa”, disse Domingos. Para Dioni, a viagem rendeu frutos que ainda estão por se consolidar. A experiência de expandir a defesa da educação e da ciência por meio da atuação das secretarias estaduais da SBF fortalece a pressão política necessária para que a Física ocupe, de fato, o patamar que merece no Brasil.
Assista à entrevista sobre a missão da SBF em Brasília
(Colaborou Roger Marzochi)