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Por Frederico S. M. de Carvalho

Com curadoria da CAPEF

Referência:

MACHADO, M.; ALVES, I. S.; MAIA, E. R. R. M.; MAGALHÃES, A. A. S.; CORDEIRO, I. B. Elaboração de um jogo didático de biofísica como ferramenta de aprendizado e motivação para acadêmicos do curso de Medicina. Revista Brasileira de Ensino de Física, v.43. 2021. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbef/a/zkTtw3NQZDQSX44xxtVYjzB/?lang=pt&format=pdf

A multidisciplinaridade nem sempre é bem encarada no universo acadêmico. Para alunos das áreas biológicas, compreender e associar as Ciências Exatas à sua área de conhecimento é um desafio enfrentado com dificuldade. Encontrar a motivação para aprofundar-se nos conhecimentos de Física e Matemática é custoso, já que ambas as disciplinas não pertencem à área de domínio de grande parte dos alunos e, durante sua trajetória discente – desde o Ensino Médio –, normalmente não são associadas.

Junte as afirmativas acima com a fator “Pandemia” e temos ingredientes suficientes para inspirar professores e monitores da disciplina de Biofísica, na Universidade Federal de Manaus (Ufam), a buscarem uma saída criativa na tentativa de motivar alunos a se interessarem pelos princípios físicos e as correlações existentes com eventos biológicos em animais e plantas. Assim, surgiu a ideia do jogo “Perfil Biofísica”, inspirado no famoso jogo “Perfil” da empresa Grow Brasil. E, com base em sua aplicação, surgiu também o artigo “Elaboração de um jogo didático de biofísica como ferramenta de aprendizado e motivação para acadêmicos do curso de Medicina”, escrito por cinco pesquisadoras da Ufam e publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física.

O artigo explora desde as motivações para criação do jogo, desenvolvendo-se em torno da dinâmica da ferramenta de ensino, até a avaliação realizada com os estudantes participantes. A disciplina de Biofísica, aplicada aos alunos do primeiro período do Curso de Medicina da Ufam, foi escolhida pelo seu caráter desafiador, já que exige, além do conhecimento básico de Física e Biologia, “maturidade para que esses conceitos sejam correlacionados e compreendidos de uma forma mais ampla”. Outro fator considerado foi a pouca quantidade de material didático disponível que fosse voltado especificamente aos cursos de Ciências da Saúde e Biológicas, potencializando o caráter complementar da ferramenta criada.

Para elaborar o jogo a equipe de criação optou por abordar a área da Fluidodinâmica, que compreende a Biofísica da Circulação, Biofísica da Respiração e Biofísica da Função Renal. Foram criadas cartas com as características referentes aos três sistemas para que as equipes pudessem fazer as associações adequadas. Complementando a adaptação do jogo, foi elaborado um tabuleiro virtual com três categorias: “Lei Física”, “Grandeza Física ou Parâmetro Biofísico” e “Evento Biofísico”. O objetivo do jogo era montar as redes de associação para avançar às próximas casas do tabuleiro.

A turma, composta de 39 alunos, foi dividida em equipes de até sete integrantes, orientadas a criar um avatar que representasse o grupo e a estudarem o conteúdo apresentado na disciplina. A equipe da vez escolhia uma característica da carta a cada jogada, os mediadores – professor e monitores – liam o conteúdo e no minuto seguinte a equipe deveria decidir se passaria adiante a jogada ou responderia. A vencedora seria a que chegasse primeiro ao final do tabuleiro. Tudo realizado de forma síncrona por meio do Google Meet, em uma partida de uma hora e meia de duração.

As autoras destacam a importância da utilização de metodologias ativas e gamificação no ensino para reduzir a evasão de estudantes e aumentar a motivação dos alunos durante o aprendizado, pois “promovem situações de ensino-aprendizagem e aumentam a construção do conhecimento, desenvolvendo a capacidade de iniciação, ação ativa e motivadora”. Essa afirmativa é corroborada pela análise dos resultados da pesquisa aplicada ao final da experiência.

Segundo a avaliação dos estudantes, 56,4% dos entrevistados deram nota máxima para o jogo, 23,1% deram nota 9 e 20,5% deram nota 8. Além disso, 94,9% dos alunos afirmaram que o jogo em equipe foi favorável para seus respectivos aprendizados e 97,4% responderam que a organização em grupos foi útil para desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe no ambiente acadêmico. Quando questionados se o desempenho seria melhor se o jogo fosse individual, 89,7% dos alunos afirmaram que não acreditavam na afirmativa.

O jogo “Perfil Biofísica”, apresentado no artigo, assemelha-se a outro disponível na literatura, o “PerFísica”, apresentado pelas pesquisadoras Maria Eduarda Silva da Gama Afonso e Marta Maximo-Pereira no artigo “Investigando Processos de Retomada de Conhecimento de Física por Intermédio do Jogo PerFísica”, publicado na revista Investigações em Ensino de Ciências, em 2020. O jogo foi elaborado e aplicado com estudantes de Ensino Médio na disciplina Física. Este outro artigo está disponível em www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/1984/pdf.