A professora Ana Maria Marques da Silva, tesoureira da Sociedade Brasileira de Física (SBF), acaba de receber uma das distinções mais importantes da área: o título de Fellow da Organização Internacional de Física Médica (IOMP, na sigla em inglês). A premiação será entregue durante o IUPESM World Congress on Medical Physics and Biomedical Engineering 2025, que acontece entre 29 de setembro e 4 de outubro em Adelaide, na Austrália.
“Eu tenho muito orgulho em receber a distinção Fellow para a América Latina da IOMP pois é um coroamento de um longo caminho que envolveu desde a formação de muitos profissionais que atuam hoje no Brasil e no exterior, a participação no fortalecimento da Física Médica no Brasil e na minha atuação na pesquisa. Então, eu acho que a distinção não é só minha, é de todos os meus colegas que trabalharam comigo, de todos os meus alunos. É muito bom ter esse reconhecimento e acho que é muito bom para o País”, diz Ana Maria ao Boletim SBF.

A distinção é concedida a profissionais indicados por associações, que enviam os nomes com base em critérios que vão além da produção científica, incluindo educação, extensão e divulgação científica em âmbito global. Para a professora, o título de Fellow funciona como uma distinção simbólica. “Quando a gente ganha isso, na realidade, é um reconhecimento, mas não é um título, mas sim uma distinção. Normalmente, as pessoas que têm o fellow colocam depois do título, por exemplo. Então, as grandes associações premiam seus membros com essa distinção, que eu prefiro chamar assim”, explica Ana Maria, que é também vice-coordenadora do Comitê Internacional da American Association of Physicists in Medicine (AAPM), membro do comitê de Educação Continuada da Asociación Latinoamericana de Física Médica (ALFIM) e membro dos Comitês Financeiro e de Educação da IOMP.
Ana Maria soma mais de 30 anos de experiência. Doutora pela USP, iniciou a carreira em projetos interdisciplinares com o Instituto de Física e o Instituto do Coração (InCor). Lecionou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e na PUC-RS antes de integrar o Programa de Radiologia da Faculdade de Medicina da USP.

Na avaliação da pesquisadora, o Brasil ocupa posição de destaque na América Latina na Física Médica. “O Brasil é reconhecido como um país, na área da Física Médica, que tem um amadurecimento maior do que, inclusive, em outros países. Talvez tirando os Estados Unidos e o Canadá, o Brasil é o próximo das Américas a estar mais maduro do ponto de vista não só da pesquisa, mas da atuação profissional do físico médico nos hospitais e clínicas.”
Esse reconhecimento se reflete na existência de certificações nacionais para físicos médicos, exigidas em processos seletivos hospitalares e previstas em legislação. “O físico médico é reconhecido como um profissional da área da saúde. Tudo isso é um amadurecimento em relação à realidade de outros países”, explica, lembrando que Chile e México ainda não têm regulamentações equivalentes.
Ao longo da carreira, ela atuou diretamente para consolidar essas conquistas. “Trabalhei em muitos processos para defender a existência das residências em Física Médica junto ao Ministério da Saúde e da Educação, para trabalhar pela formação mesmo, pelo amadurecimento desse processo. Eu tenho clareza de que não é um trabalho só meu, é um trabalho de muitas mãos e cabeças.”
Desafios para o futuro
Apesar do avanço, ainda há questões importantes a enfrentar. “A Física Médica tem um reconhecimento, mas esse reconhecimento não é igualitário em todas as áreas”, explica a cientista, citando as três frentes principais: radioterapia, medicina nuclear e radiologia. A radioterapia é a mais consolidada, enquanto a medicina nuclear e a radiologia ainda precisam de maior estruturação legal e profissional.
Um dos pontos de atenção é a formação de novos especialistas para acompanhar o crescimento dos radiofármacos. “As grandes empresas farmacêuticas estão investindo em tratamentos utilizando radiofármacos. E isso tem exigido um profissional que trabalha numa linha de dosimetria e que tem uma formação mais sofisticada. Então, acho que um dos desafios é formar mais gente mesmo”, afirma.
Outro objetivo estratégico é a criação do Conselho Federal de Física, pauta defendida há anos pela SBF. “Quando você vai para a área clínica ou hospitalar, todos os profissionais da saúde têm um conselho que chancela esse profissional. A gente já tem a regulamentação, mas ainda falta esse passo. Eu acho que um dos desafios que a gente vai enfrentar agora é realmente a criação do Conselho, porque com isso você cria um reconhecimento alinhado com os outros profissionais da saúde”, afirma Ana Maria.
Esse alinhamento, explicou a Tesoureira da SBF, é muitas vezes importante, “porque esse profissional trata com vidas humanas, trata com pessoas: ele precisa ter não só um certo padrão de qualificação, mas também um certo padrão de reconhecimento, inclusive para responder, inclusive legalmente, sobre os seus atos”.
A necessidade de aumentar a massa crítica de profissionais também é urgente. “Todos os grandes hospitais do País têm físicos médicos contratados, até hospitais menores, inclusive clínicas. E hoje em dia a exigência passa a ser tão grande que a área da Física Médica é uma área na qual o número de empresas de prestação de serviços é muito grande, porque você tem um campo profissional que é muito extenso”, diz ela, que defende também a ampliação da atuação nas áreas profissionais e também industriais. “A área de desenvolvimento e inovação de equipamentos médico-hospitalares é uma área de futuro.”
(Colaborou Roger Marzochi)