Após 11 anos à frente do Brazilian Journal of Physics (BJP), o editor-chefe Antonio Martins Figueiredo Neto, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), encerra sua gestão à frente da publicação da Sociedade Brasileira de Física (SBF) com importantes conquistas. Entre elas, destacam-se a elevação do fator de impacto da revista para 1.7, o mesmo nível do European Physical Journal B (EPJ B), e a renovação do contrato com a editora Springer, que, a partir de janeiro de 2025, passará a remunerar a nova equipe editorial, liderada desde junho pelo novo editor-chefe, o físico Alberto Saa, professor do Departamento de Matemática Aplicada do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Para mim, foi um prazer imenso. Se você comparar como era o fator de impacto há 11 anos e como está agora, estou deixando a revista em um patamar equivalente ao do European Physical Journal, por exemplo”, comemora Figueiredo Neto, que atribui o avanço ao trabalho conjunto com os editores associados e pareceristas, além de estratégias editoriais bem-sucedidas.

“Para mim, foi um prazer imenso. Se você comparar como era o fator de impacto há 11 anos e como está agora, estou deixando a revista em um patamar equivalente ao do European Physical Journal”, diz Antonio Figueiredo Neto.

Figueiredo Neto tem uma carreira acadêmica e científica relevante, com mais de duzentos artigos publicados e dois livros “The Physics of Lyotropic Liquid Crystals, Phase Transitions and Structural Properties”, e “Lyotropic Liquid Crystals” ambos lançados pela Oxford University Press. Especialista em Física dos Fluidos Complexos, ele afirma encontrar o fôlego necessário para a pesquisa não apenas no amor pela ciência, mas também em atividades como natação, na música de Richard Wagner e em seu interesse pela história do Egito Antigo.

“Acho importante ter válvulas de escape para a mente, é fundamental não ficar preso a um único tipo de pensamento, a um único interesse”, afirma o professor, que completou 72 anos no último dia 20 de junho, com vitalidade e energia para seguir em suas pesquisas e na vida acadêmica. Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida por Figueiredo Neto ao Boletim da SBF.

Que estratégias e decisões editoriais contribuíram para o crescimento do fator de impacto da BJP?

Procurei montar uma equipe de editores associados do mais alto padrão, com pessoas em quem eu tivesse total confiança, tanto do ponto de vista científico quanto de seriedade. No início, a equipe era menor, mas, com o aumento nas submissões, fui ampliando conforme necessário. Um dos pontos importantes foi ajustar as áreas de atuação dos editores associados à medida que o fator de impacto e número de submissões crescia.

Outra preocupação constante foi não deixar as submissões paradas por muito tempo. Há casos em que um manuscrito pode levar até meses para que o autor receba um retorno. Trabalhei com os editores associados para que nenhum manuscrito ficasse muito tempo conosco sem resposta. Também propusemos edições especiais, por exemplo, em homenagem a professores aposentados ou falecidos, destacando suas contribuições à Física. Além disso, lançamos a série Classics, que recupera artigos históricos publicados nos Anais da Academia Brasileira de Ciências (ABC), originalmente em português, escritos por grandes pesquisadores brasileiros como Mario Schenberg e César Lattes.

Quais foram os desafios enfrentados durante sua gestão e como eles foram superados?

Eu recebia cerca de dez manuscritos por dia. É muita coisa. Desses, eu talvez encaminhasse uns quatro para os editores associados, enquanto os outros eu mesmo resolvia. Esse volume é um desafio que a nova equipe também enfrentará, especialmente agora, com o fator de impacto mais alto, o que tende a atrair ainda mais submissões.

Até então, todo esse trabalho era feito de forma absolutamente voluntária, sem remuneração. Por isso, lutei bastante para que a SBF ou a Springer passassem a remunerar os editores, pois é uma atividade extremamente exigente. O docente gasta muito tempo na triagem inicial, no acompanhamento do trâmite, na leitura dos pareceres… Felizmente, conseguimos nos últimos anos que a Springer reservasse recursos para remunerar o editor e os editores associados.

Professor, o fator de impacto é um selo de qualidade e um legado que o senhor deixa para a próxima equipe, uma conquista construída também com o trabalho de toda a sua equipe. O que representou para o senhor liderar essa jornada por 11 anos? E quais são as expectativas para o futuro do BJP?

Para mim, foi um prazer imenso. Se compararmos como era o fator de impacto há 11 anos e como está agora, posso dizer que estou deixando a revista em um patamar equivalente ao do European Physical Journal. Claro que ainda não chegamos ao nível do Physical Review Letters (PRL), que é muito mais antigo que a nossa revista e tem uma longa trajetória, com publicações de prêmios Nobel. Mas fico muito feliz com o que foi alcançado. Conseguimos levar o BJP até este nível atual e, agora, minha expectativa é que a nova equipe continue esse trabalho e leve a revista ainda mais longe.

O que pode ser feito para melhorar ainda mais o fator de impacto?

Acho que uma boa iniciativa seria convidar pesquisadores de alto nível, brasileiros e do exterior (por exemplo, prêmios Nobel mais antigos) para escreverem artigos de revisão sobre suas áreas de pesquisa e apontar novas perspectivas. É algo que cheguei a pensar em fazer, mas não consegui colocar em prática por falta de tempo. Talvez essa nova equipe possa retomar essa ideia.

(Colaborou Roger Marzochi)