Após 10 anos, a cidade de Natal voltou a ser o palco de um dos eventos mais tradicionais da ciência brasileira. De 26 a 28 de novembro, a capital do Rio Grande do Norte recebeu mais de 900 estudantes, professores e pesquisadores para o 39º Encontro de Física do Norte e Nordeste (EFNNE). A conferência, realizada anualmente pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), é pautada pelos principais desafios do ensino e da pesquisa na área.

“A proposta é levar o conhecimento produzido aqui para todos os estados do nosso país, mostrando que no Norte e Nordeste também se faz ciência de qualidade. Além disso, o EFNNE tem um papel estratégico na formação dos alunos da graduação, mestrado e doutorado. Não é à toa que a maioria dos nossos participantes são estudantes, muitos vindo pela primeira vez”, explicou o coordenador do evento, o Prof. Farinaldo Queiroz.

O coordenador geral do evento, professor Farinaldo Queiroz (UFRN).
O coordenador geral do evento, professor Farinaldo Queiroz (UFRN).

O retorno à capital potiguar também carrega um simbolismo histórico. Foi em Natal, em 1983, que a reunião foi realizada pela primeira vez. De acordo com o presidente da SBF, o Prof. Sylvio Canuto, o evento contava com aproximadamente 40 pessoas. “A dimensão do encontro cresceu muito de lá para cá. Isso reafirma esse grande impacto entre os mais jovens, então a SBF olha para esse encontro com muito carinho”, destacou.

Integração e desenvolvimento regional

Um dos pesquisadores que acompanhou a evolução do evento ao longo das últimas décadas é o Prof. Marcelo Lyra, vice-presidente da SBF. Para ele, que participa do Encontro de Física do Norte e Nordeste desde a primeira edição, quando era estudante de Iniciação Científica, a conferência é fundamental para a integração da comunidade acadêmica local e o fortalecimento das instituições regionais.

Professores Marcelo Lyra (Ufal e vice-presidente da SBF), Sylvio Canuto (USP e presidente da SBF), Rodrigo Capaz (UFRJ), Débora Menezes (Dasd/CNPq) e Rogério Rosenfeld (Unesp).
Professores Marcelo Lyra (Ufal e vice-presidente da SBF), Sylvio Canuto (USP e presidente da SBF), Rodrigo Capaz (UFRJ), Débora Menezes (Dasd/CNPq) e Rogério Rosenfeld (Unesp).

“Temos uma região muito extensa, as instituições de pesquisa são afastadas umas das outras, então unir a comunidade de físicos através desse evento foi importantíssimo para que os departamentos e institutos se desenvolvessem, criassem seus grupos de pesquisa, criassem seus programas de pós-graduação. O resultado é que, hoje, já temos programas na região com padrão de excelência internacional”, afirmou o Prof. Lyra.

Esse esforço para aproximar pesquisadores e instituições das regiões Norte e Nordeste é essencial, pois o desenvolvimento científico não ocorre de forma homogênea no país. O professor Carlos Aragão, Diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep, foi um dos destaques da programação do evento e ressaltou que o encontro também é indispensável para lidar com as “assimetrias regionais”:

“A gente sabe que a região Nordeste tem feito grande progresso, muitas Federais daqui já são referência. Na região Norte, por outro lado, várias instituições ainda estão iniciando e precisam dessa interação. Nós, físicos, sabemos que a colaboração é fundamental para o avanço da área, então essa interação é o segredo para que esses grupos emergentes possam se beneficiar de toda a experiência de grupos já consolidados na região”.

Da pesquisa à sala de aula

Além de palestras ministradas por especialistas de todo o Brasil, bem como Chile, Colômbia e Estados Unidos, a programação do 39º Encontro de Física do Norte e Nordeste foi marcada pela apresentação de mais de 600 pôsteres, dedicados tanto à pesquisa quanto ao ensino em Física. Segundo a Prof. Marcilei Guazzelli, secretária de comunicação da SBF, essa amplitude de temas é um dos grandes diferenciais do evento.

“Os trabalhos, inclusive os voltados à preocupação com o ensino de física, tanto a nível de ensino médio como ensino superior, me surpreenderam. O próprio regionalismo foi usado como uma ferramenta para fazer divulgação científica”, avaliou. Para a Prof. Débora Menezes, diretora de Análise de Resultados e Soluções Digitais do CNPq, a qualidade dos trabalhos reafirma a importância de levar o debate científico para todo o país.

“Nas últimas décadas, a SBF tem feito um esforço para levar esses grandes eventos para diversas regiões do Brasil. Vir à Natal, por exemplo, para mostrar o que tem sido feito de ciência de ponta é fundamental. Isso chega aos estudantes de graduação e aos professores, que poderão levar essa informação também para as escolas, atraindo cada vez mais cientistas para áreas tão fundamentais como a física”, destacou.

O 39º Encontro de Física do Norte e Nordeste foi realizado pela Sociedade Brasileira de Física, com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec). A próxima edição do evento será realizada em 2026, na cidade de João Pessoa, na Paraíba.