
O cientista Éder José Guidelli, professor do curso de Física Médica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), foi anunciado o vencedor do Prêmio Anselmo Salles Paschoa 2025, da Sociedade Brasileira de Física (SBF). O prêmio é outorgado a pesquisadoras negras e pesquisadores negros em física, em início da carreira, cujo trabalho de pesquisa tenha contribuído de forma significativa para o avanço da física ou do ensino de física no País.
“Receber o Prêmio Anselmo Salles Paschoa é uma honra profunda. Salles Paschoa foi um dos grandes pioneiros da Física Médica no Brasil, com forte atuação em radioatividade ambiental e física das radiações. Ser reconhecido com um prêmio que leva o nome de um cientista tão comprometido com a ciência e com o país, e como homem negro, seguir abrindo caminhos na física, é também uma forma de reafirmar que pertencemos a todos os espaços do conhecimento”, diz Guidelli.

Anselmo Salles Paschoa (1937–2022) foi um físico brasileiro de destaque na área de física das radiações e radioatividade ambiental. Professor emérito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), teve papel fundamental na formação de gerações de físicos e no fortalecimento da Física Médica e da proteção radiológica no Brasil. Atuou como consultor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e colaborou em políticas públicas relacionadas à segurança nuclear. Paschoa também participou de investigações e análises técnicas após o acidente radiológico de Goiânia em 1987. Defensor do uso responsável das tecnologias nucleares, sua trajetória uniu excelência acadêmica e compromisso ético com a sociedade. O prêmio da SBF que leva seu nome reconhece contribuições relevantes à Física Médica e áreas correlatas.
Nascido em Jaboticabal, no interior de São Paulo, Guidelli tem uma trajetória admirável. Antes de lecionar no curso de Física Médica em 2017 na FFCLRP, onde fez sua graduação, Guidelli concluiu seu pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), colaborando com o grupo do cientista Moungi Bawendi, um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Química de 2023 pela descoberta e desenvolvimento dos chamados pontos quânticos, nanopartículas que brilham ao serem excitadas, por exemplo, por raios X.
Além da contribuição desses estudos no desenvolvimento de detectores de radiação, os pontos quânticos podem revolucionar a medicina. O cientista foi o primeiro palestrando de um webinar de Física Médica a SBF em 2023.
De volta ao Brasil, Guidelli começou a montar um laboratório, o NanoDose, em Ribeirão Preto em 2019 na FFCLRP. “Não dei sequência aqui ainda aos pontos quânticos, mas gostaria em breve de voltar a trabalhar com eles”, diz o professor, em entrevista ao Boletim SBF em 2023. Embora as condições técnicas do laboratório não permitissem a continuidade da pesquisa com pontos quânticos, o cientista iniciou o estudo desse processo de luminescência excitada por raios X no combate ao câncer usando nanopartículas à base de lantanídeos, elementos da tabela periódica altamente luminescentes.
Ele explica que o desafio é reduzir o tamanho dessas partículas ainda mais, mantendo seu alto brilho mediante exposição aos raios X, porque a literatura sugere o uso de nanopartículas de até 5 nanômetros para uso em pacientes, tamanho que facilitaria a eliminação pelos rins, evitando o acúmulo no organismo. Entre 2023 e 2025, houve evolução em seu laboratório e pesquisa, explica o cientista. “Além de demonstrar a eficácia de nanopartículas lantanídicas para combater células de câncer por meio de estudos in vitro, conseguimos produzir nanopartículas ultrapequenas ( capazes de liberar oxigênio quando expostas aos raios X. Uma vez que o oxigênio tem papel crucial na radiossensibilidade de tumores tratados com raios X, essas nanopartículas tem grande potencial para aumentar a efetividade da radioterapia”, diz o cientista.
(Colaborou Roger Marzochi)