1905 é uma data que entrou para a história da humanidade. Esse foi o ano em que Albert Einstein desenvolveu suas mais importantes teorias. Como a física alimenta a humanidade desde que nasceu, podemos dizer assim, com as questões levantadas pelos filósofos pré-socráticos, até a atualidade, 1905 foi tão marcante que acabou virando a data em que se comemora o Dia do Físico , representando o Dia da Física e de quem se dedica a ela.

O Boletim SBF entrevistou físicas e físicos vencedores de importantes prêmios concedidos pela entidade e pelo governo brasileiro para saber mais exatamente: o que a física faz para a sociedade e quais são seus principais desafios? Os entrevistados defenderam a ciência básica, a mecânica quântica e a Física Médica, e destacaram a importância de maior diversidade na área, além de valorizarem a paixão pela ciência e a abertura de pensamento.

Para a física Belita Koiller, professora titular do Instituto de Física da UFRJ e vencedora do Prêmio Joaquim da Costa Ribeiro 2025 da SBF, a física é, antes de tudo, uma ciência básica. Isso significa que não se deve exigir dela aplicações imediatas. “Ela é a base de várias outras áreas do conhecimento e das ciências, em particular as engenharias”, afirma. Koiller acredita que há carência de profissionais da engenharia com conhecimento sólido em física quântica, o que atrasa o desenvolvimento de tecnologias avançadas no Brasil. Por isso, ela defende que a mecânica quântica seja incorporada aos currículos das engenharias.

Belita foi a primeira mulher a alcançar o nível de pesquisadora PQ1-A do CNPq e a primeira mulher a ingressar como membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na área de Ciências Físicas, em 1996. A professora faz questão de enfatizar a importância da diversidade na área. “A presença da mulher na área só pode beneficiar a física, porque está se desperdiçando praticamente metade da mão de obra e dos cérebros que poderiam contribuir”, diz. Para ela, é fundamental oferecer mais informação para que as meninas possam considerar a física como uma possibilidade profissional, ressaltando que “as causas feministas beneficiam as mulheres e também os homens”.

Já a astrofísica Rita de Cássia dos Anjos, professora da UFPR-Setor Palotina e vencedora do Prêmio Carolina Nemes 2024, destaca que os benefícios da física se multiplicam. A começar pela própria expansão do conhecimento: “Hoje o que a gente sabe do Universo em termos de posição, em termos de planeta… estamos num planeta, dentro de um sistema solar, dentro de uma galáxia”, diz. Ela atua na rede de telescópios de raios gama CTA e no Observatório Pierre Auger, de raios cósmicos, e reforça que para chegar a essas descobertas é preciso grande avanço tecnológico, como sensores, satélites e modelagens computacionais. Rita também defende a interdisciplinaridade como uma das forças da física. “Você vai ter a física aplicada à biologia, a física médica, a física matemática, a física química… A física avança em outras áreas do conhecimento e avança tecnologicamente.”

Antonio José Silva Oliveira, professor da UFMA e vencedor do Prêmio Ernesto Hamburger de 2024, ressalta que a física moldou o mundo moderno. “A física nos deu a primeira máquina — a máquina a vapor — e com ela, a revolução industrial”, afirmou. Segundo ele, a física continua presente em tudo: “Hoje estou lhe vendo, você está me vendo, graças às ondas eletromagnéticas, à equação de Maxwell.” Para o professor, a física não apenas ajudou a transformar o mundo, mas contribui também para a medicina e para as comunicações, estando presente em tudo aquilo que foi teorizado um dia por um físico — e que hoje está na prática cotidiana.

Ao falar da universalidade da física, Oliveira é direto: “A biologia é molecular? Então é física. A química é quântica? Então é física. A física está praticamente em todas as áreas do conhecimento. Está na economia, no ensino, na astronomia…”.

Na interface com a saúde, destaca-se o trabalho do físico Neilo Marcos Trindade, professor do Instituto de Física da USP e vencedor do Prêmio Anselmo Salles Paschoa de 2024. Atuando com física aplicada e dosimetria das radiações, Trindade explica que os físicos têm papel fundamental na proteção de pacientes e profissionais da saúde em exames diagnósticos e tratamentos com radiação. “A física contribui para o desenvolvimento de detectores de radiação mais sensíveis e eficientes, auxiliando, por exemplo, no planejamento terapêutico”, afirma.

Trindade chama a atenção também para os desafios da profissão, sobretudo no Brasil, onde o mercado de trabalho é restrito. Mas reforça que a diversidade é um caminho necessário para o fortalecimento da física. “Quanto mais diversa for a instituição, mais representativa ela será da sociedade”, diz. Para ele, estudantes trans, LGBTQIA+, negros e negras devem ser acolhidos nas universidades para que possam se reconhecer no espaço acadêmico.

Coordenador do projeto Sirius, o mais avançado acelerador de partículas da América Latina, o físico Antonio José Roque da Silva foi agraciado com o 37º Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia. Em sua fala, destacou que a física está na base da compreensão do mundo, dos materiais e do funcionamento de equipamentos que mudaram a sociedade. “O laser saiu de desenvolvimentos da física, o transistor também”, lembrou.

Roque também destaca a importância da mecânica quântica para entendermos desde os quarks até as galáxias e ondas gravitacionais. “A física nos permite entender nosso lugar no universo”, afirmou. Roque da Silva reforça, porém, que os desafios do futuro — como estabilidade ambiental e energias renováveis — exigem um esforço coletivo de todas as áreas do conhecimento. “O conhecimento humano e os desafios não perguntam se é um físico, um químico ou um matemático que vai resolver. É um problema a ser resolvido.”

Por fim, deixa um conselho a quem está começando: “O jovem precisa entender que a formação em física permite atuar em muitos ambientes, não só como pesquisador. Ele pode ir para a indústria, para empresas, para o ensino. A física oferece uma formação sólida em raciocínio e ferramentas matemáticas.” E completa: “Frustrações virão, mas é preciso manter viva a motivação original que te levou à física. E manter sempre a mente aberta.”

A Sociedade Brasileira de Física (SBF) parabeniza todas as pessoas que, com curiosidade e dedicação, ajudam a construir a Física. Sua contribuição é essencial para que possamos compreender o mundo e transformá-lo.

(Colaborou Roger Marzochi)