O Conselho Técnico Científico da Educação Superior (CTC-ES) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) aprovou no dia 13 de junho, a criação do Doutorado Nacional Profissional em Ensino de Física da SBF (DNPEF/SBF). O projeto segue agora para Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação (MEC). Embora ainda haja etapas a serem cumpridas até a aprovação final do projeto, a decisão favorável do CTC foi recebida com entusiasmo e comemorada como uma importante conquista para a Sociedade Brasileira de Física (SBF. Esse avanço ocorre em um momento de renovação da representação da SBF e representa um passo significativo para o fortalecimento do ensino de Física na educação básica brasileira.

“É uma satisfação muito grande ter conquistado essa aprovação do DNPEF no final da nossa gestão. A gente vem batalhando por isso há muito tempo e eu acho que isso é um coroamento do esforço detoda a comunidade que se empenhou para que isso fosse realidade”, afirma Rodrigo Capaz, presidente da SBF. “De fato foi um esforço que envolveu várias gestões anteriores da SBF e, principalmente, um esforço da comunidade de Ensino de Física, com a participação fundamental do Conselho da SBF, que apoiou essa iniciativa e contribuiu bastante para que ela fosse aperfeiçoada durante as discussões”, explica Capaz, que lembra que o DNPEF é resultado do sucesso do Mestrado Nacional Profissional de Ensino em Física (MNPEF), criado em 2014 pela SBF.

Segundo Silvana Perez, coordenadora nacional do MNPEF, ao longo desses anos o projeto formou mais de 3 mil mestres em Ensino de Física em todo o país, que hoje conta com 60 polos espalhados por todas as regiões brasileiras.  “Uma grande parcela desses mestres aguardava ansiosamente pelo doutorado. São professores da Educação Básica que teriam muita dificuldade de fazer um doutorado acadêmico, frequentando a universidade todos os dias da semana, devido à sua alta carga horária em sala de aula da Educação Básica. O desenho do novo curso foi cuidadosamente  dimensionado para a realidade desse professor”, explica Silvana, que espera ser possível iniciar o processo seletivo entre o segundo semestre de 2026 e o primeiro semestre de 2027.

Ela explica que, inicialmente, a ideia era oferecer o doutorado em 20 polos, mas a SBF achou prudente iniciar com seis polos, que atenderão todas as regiões do País. Assim como no MNPEF, o doutorado incentivará a criação de produtos educacionais inovadores para serem aplicados nas salas de aula da educação básica, do extremo Norte do País ao extremo Sul. “O nosso programa busca realizar uma integração da educação no País. Embora o doutorado inicialmente seja oferecido em seis polos, estes foram pensados de forma a contemplar todas as regiões do País e escolhidos de forma a possibilitar uma maior integração regional com os outros polos que não fazem parte da proposta do doutorado nesse momento”, explica Silvana.

A grande alegria pela aprovação do doutorado no CTC reflete não apenas anos de luta, mas um longo processo de aprovação do projeto. Quem conta a história é Nelson Studart, Coordenador Acadêmico e Docente da Ilum Escola da Ciência do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM) e Pró-Reitor de Pós-Graduação da SBF. Studart participou da construção e consolidação do mestrado e trabalhou intensamente também pelo resultado apresentado hoje pelo CTC-ES.

“Durante a gestão do pró-reitor Marcello Ferreira e da coordenadora Iramaia de Paulo, a proposta de criação do DNPEF foi enviada à CAPES. Na época, apenas a proposta da área de História foi aprovada. Entre os entraves estavam a falta de um Documento Orientador específico para doutorados profissionais e a exigência de contemplar todos os polos da rede, o que a proposta da SBF não atendia. Com a criação da nova área de Ciências e Humanidades para a Educação Básica (área 51) e a revogação dessa exigência, uma nova proposta, adequada às normas do Documento Orientador, foi encaminhada em meu segundo mandato como pró-reitor e da coordenadora nacional Silvana Perez”, explica Studart.

O Pró-Reitor explica que o DNPEF aprofunda os estudos dos egressos do MNPEF, “ou de outros MPs nas áreas de Ciências, e exige uma pesquisa translacional mais consistente com vistas à implementação de metodologias inovadoras na ensinagem de física”. “O desenho do curso foca no aprofundamento em pelo menos uma área básica da Física e em oferecer aos futuros pesquisadores metodologias para a ensinagem de física e referências para o desenvolvimento de materiais instrucionais. Espera-se dos egressos que melhorem sua prática docente com a execução de propostas inovadoras em sala de aula e realizem a transferência didática dos conteúdos da física contemporânea para a educação básica e mantenham sempre acesa a chama da pesquisa para sempre”, afirma Studart.

Para ele, o DNPEF é uma oportunidade real de mudança para o ensino de Física no Brasil. “A gente precisa que ele ajude os professores a integrar mais a Física com outras áreas da ciência — chega dessa divisão rígida entre disciplinas. Também espero que o programa incentive a atualização dos conteúdos que são ensinados. A Física está em constante transformação, e os alunos merecem ter contato com temas atuais e relevantes”, afirma.

Studart acrescenta que outro ponto fundamental é o uso de metodologias ativas que realmente façam sentido para os estudantes. “Não adianta só mudar o formato se o conteúdo continua distante da realidade deles. E, claro, acho essencial que o DNPEF traga a inteligência artificial para dentro da escola básica — tanto como ferramenta quanto como tema de estudo. A IA já está mudando o mundo, e o ensino de ciências precisa acompanhar esse movimento”, avalia.

Capaz, que deixa o cargo em agosto, acredita que a nova gestão da SBF deverá fortalecer ainda mais a busca pela melhoria do ensino básico no País, no qual o ensino de Física sofreu duros golpes. “A gente sabe que (o ensino de Física) vem sendo atacado por reformas do ensino médio. Eu acho que a SBF tem um papel importante de chamar atenção aos tomadores de decisão sobre a necessidade de que o ensino de Física seja qualificado no ensino médio. Também seria importante para a próxima gestão uma análise e propostas efetivas para que a gente esteja continuamente melhorando o ensino de física no nível dos cursos de graduação. É preciso baixar a evasão dos cursos de licenciatura e física. Eu acho que a SBF tem muito a contribuir para reformas profundas e estruturantes nos cursos de física do Brasil. Eu entendo que são extremamente importantes.”

(Colaborou Roger Marzochi)

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