Sylvio Canuto faz agradecimentos finais após o evento. (Crédito: Roger Marzochi)

“Em esporte a gente compete, mas em ciência a gente colabora.” Foi assim que o físico Sylvio Canuto, presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), agradeceu à comunidade científica sobre a realização do evento “Sylvio Canuto Festchrift Symposium”, realizado na quarta-feira (19/11) no auditório Abrahão de Moraes, no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do instituto. Foi um momento no qual mais de 16 cientistas do Brasil e do mundo tiveram a oportunidade de celebrar os 75 anos do presidente da SBF e a longa colaboração científica. “Eu tinha um professor também que disse pra mim que ciência era uma boa desculpa pra você fazer amigos. Isso realmente é verdade. Eu fico feliz das pessoas que aqui falaram ou vieram de longe (para o evento)”, diz o físico.

Kaline se emociona ao lembrar a trajetória de pesquisa e familiar com Canuto. (Crédito: Roger Marzochi)
Kaline se emociona ao lembrar a trajetória de pesquisa e familiar com Canuto. (Crédito: Roger Marzochi)

Quem iniciou a cerimônia foi Kaline Coutinho, atual diretora do IFUSP e primeira mulher a ocupar o cargo, que é também companheira de Canuto. Em certo momento, ela se emocionou com a recordação sobre como eles se conheceram, das pesquisas que fizeram e da família que construíram. Emocionante também foi a apresentação de Adalberto Fazzio, diretor da Ilum Escola de Ciência do CNPEM e Professor Titular da USP, sobre a amizade de longa data com Canuto, lembrando de 1974 quando, demitidos da Universidade de Brasília (UnB), empreenderam uma viagem longa até São Paulo em busca de trabalho. “Fomos para São Carlos e também não deu certo: o pessoal ficou assustado com o tamanho do cabelo do Sylvio e com o meu cabelo também. ‘Pô, mas vocês são hippies’.”, lembra Fazzio.

Das 10h às 17h, com cerca de duas horas de almoço, revezaram-se seja em participação online ou presencial, amigos pesquisadores das mais diferentes idades cujo vórtice era Sylvio Canuto. Desde a forma como os alunos conseguiram ter contato com o professor para orientação de teses, a meios de conseguir superar obstáculos na resolução dos problemas envolvendo a eletrônica e a física quântica de solventes e materiais diversos, até momentos de descontrações em churrascos, confraternizações, sua paixão por futebol, fotografia, Blues e boas bebidas.

Fazzio lembra da viagem de Fusca de Brasíla a São Paulo em busca de emprego. (Crédito: Roger Marzochi)
Fazzio lembra da viagem de Fusca de Brasíla a São Paulo em busca de emprego. (Crédito: Roger Marzochi)

Cerca de 40 pessoas estiverem presente no Abrahão de Moraes, como o professor Benedito José Costa Cabral (Universidade de Brasília e Universidade de Lisboa) e Vladimiro Mujica (Arizona St. Univ.), entre outros. E muitos jovens pesquisadores. Mais de um ex-aluno expressou no evento que recebeu um gás energético motivacional de Sylvio para continuar na Física.

”Eu estava muito desmotivado, no momento eu era da mecânica estatística, estava querendo… cheguei a fazer concurso… E assistindo a palestra dele, vim, passei um tempo com ele. Ele acabou me orientando no doutorado na época. Aí eu ficava nesse indo e vindo Maceió, São Paulo, Maceió, São Paulo. Aí eu fiz o doutorado. Terminei em 2010. E depois de 2015 eu voltei aqui para São Paulo. Fiquei um ano novamente com o Sylvio com quem eu fiz o pós-doutorado E a gente tem feito diversas colaborações desde então”, contou Vinícius Manzoni, da Universidade Federal de Alagoas.

Vinícius Manzoni da Universidade Federal de Alagoas lembra das pesquisas que Canuto orientou. (Crédito: Roger Marzochi)
Vinícius Manzoni da Universidade Federal de Alagoas lembra das pesquisas que Canuto orientou. (Crédito: Roger Marzochi)

Tárcius Nascimento Ramos, físico formado na Unesp e doutor pelo IFUSP que hoje está na Universidade Namur, na Bélgica, lembra que procurou Canuto por e-mail pela primeira vez em novembro de 2012, quando estava se formando em Rio Claro, recebendo uma resposta gentil que evoluiu para a orientação de mestrado e doutorado. Ramos lembra que estava planejando fazer intercâmbio e Sylvio o orientou a buscar trabalhar na Bélgica. “Eu falei na Bélgica? Onde que é a Bélgica? O que eles falam? O que eles comem? Aquela coisa bem fora do radar. Eu falei:  ‘Olha confesso que não tinha pensado nisso. Mas eu confio no seu julgamento, e se você acha que para lá será melhor para a minha formação, eu topo’. E foi assim que nós iniciamos o contato com o professor Benoit Champagne, na Bélgica. Eu tenho que aproveitar aqui agradecer novamente ao professor Sylvio porque foi uma colaboração muito boa, muito proveitosa”, lembrou Ramos.

Em entrevista ao Boletim SBF, Canuto reforçou a ideia de que fazer ciência é também fazer amigos, especialmente porque a ciência é um trabalho de extrema colaboração. Segundo ele, a aposentadoria lhe permitirá continuar o seu hobby de fotografia, ouvir B.B. King, Maddy Walters e John Lee Hook, mas isso não significa parar de trabalhar, porque além da SBF, Canuto é Coordenador Geral de Ciências, Humanidades e Artes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Eu acho que o que eu posso contribuir com mais coisa que não só produzir ciência, que é essa questão de gestão. Eu estou na Fapesp, trabalhando lá na coordenação. É a contribuição que você pode dar depois de um certo estágio na carreira, com experiência, essas coisas. E você percebe que pode contribuir de uma outra forma. E certamente, também, espero que sobre o tempo eu faça outras coisas”, explica ele, em confraternização ao final do evento, junto ao seu irmão Márcio Canuto, o lendário repórter energético da TV Globo que contagia pela sua alegria, espontaneidade e carisma.

Cientistas do Brasil e do exterior se reúnem em homenagem a Canuto. (Crédito: Roger Marzochi)
Cientistas do Brasil e do exterior se reúnem em homenagem a Canuto. (Crédito: Roger Marzochi)

Cerimônia

Assista à cerimônia completa no Canal do IFUSP no YouTube, onde você encontra também a lista de todos os cientistas que participaram do evento

(Colaborou Roger Marzochi)