A artista Estela Luz lançou um minidocumentário que mergulha nos bastidores da criação do “Palco das Estrelas”, mural pintado nas paredes da Sociedade Brasileira de Física (SBF), no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP). A obra nasceu a partir da reforma do prédio e já começa a ser reconhecida não apenas como um marco estético da comunidade científica, mas também como um espaço simbólico de encontro entre ciência e arte.
No filme, divulgado nas redes sociais da própria artista e da SBF e no nosso canal no Youtube, Estela compartilha as inspirações que nortearam seu trabalho, enquanto físicos como o ex-presidente da entidade, Rodrigo Capaz, e o ex-diretor Gustavo Dalpian destacam a relevância de aproximar a física da sociedade por meio da arte. Para Capaz, também conselheiro titular da SBF e presidente anterior, a força do mural é tamanha que ele pode até mesmo se transformar em “um ponto turístico do campus da USP”, dada sua dimensão e impacto visual.
Estela Luz relata no documentário que aceitou o convite para pintar o mural como quem aceita uma travessia: sem dominar a linguagem da física, mas encantada pela sua dimensão poética. “Pode ser que eu não entenda da forma como vocês aqui estudam, desenvolvem a pesquisa. Mas cada coisa que eu ouvi eu achava poética”, diz ela, no minidocumentário.
Essa sensibilidade já havia sido registrada no primeiro texto publicado sobre a obra no Boletim SBF em agosto. “Por que que eu coloquei esse nome, né? Porque eu penso muito nessa questão poética do horizonte como sendo um ‘palco das estrelas’ onde acontecem as coisas, no firmamento. De repente, a gente é como se fosse essa linha imaginária para onde a gente caminha, fantasiosamente como você estivesse sempre em linha reta. Talvez, nesse caminho, um dia você chegaria em você mesmo.”
A artista, que também é musicista e poeta, fez questão de visitar laboratórios do IFUSP antes de iniciar a pintura. “A gente visitou laboratórios de laser, de ótica, de plasma, de semicondutores, de criogenia. O bacana é que, olhando a arte final, a gente consegue ver algumas das coisas que foram vistas naqueles momentos ilustradas aqui”, diz Dalpian, no minidocumentário.
Física e arte
O mural reúne símbolos da física básica e avançada, traduzidos em cores e formas. Capaz aponta exemplos, como o pêndulo. “Você tem o pêndulo, que são essas esferas azuis, e ondas, que são um conceito também muito importante. E a Estela conseguiu trabalhar muito bem com essas coisas. Tem também o diagrama de Feynman, que de fato é um conceito mais avançado, mas ela mistura e combina.”
Estela fez uma imersão em diversos aspectos filosóficos, criativos e simbólicos da física, se inspirando na obra do artista M. C. Escher. Há na obra de Estela a representação da icônica imagem do físico austríaco Wolfgang Pauli e do dinamarquês Niels Bohr, observando um tippe top, um tipo especial de peão.
Para Estela, a cena é uma síntese da curiosidade que move tanto a física quanto a arte: dois gigantes da ciência fascinados pelo giro de um brinquedo, como crianças diante do mistério da natureza. “A física estuda desde coisas que são invisíveis para os nossos olhos até coisas que são gigantes. As artes fazem isso também. Elas convidam a gente para um lugar subjetivo, da poesia, da alma, do ser.”
O ex-presidente da SBF lembra ainda que a arte é capaz de levar o pensamento para um lugar lúdico que pode até estimular o pensamento racional. “A arte traz a oportunidade de, por alguns momentos, desviar o foco da pesquisa muito concentrada e abrir a mente para algo lúdico”, afirma.
Para a SBF, a obra simboliza a vocação da entidade de não apenas reunir pesquisadores, mas também dialogar com a sociedade. “Divulgar a física no Brasil e agregar os físicos brasileiros, esse é o objetivo da SBF. A ideia do mural nasceu durante a reforma do prédio como forma de aproximar a sociedade da comunidade acadêmica e dos estudantes”, diz Dalpian.
“Eu fiquei muito impressionado e muito feliz de ter ajudado a realizar isso. Eu sinceramente espero que aqui vá quase que virar uma atração turística do campus da USP”, afirma Capaz. Afinal, apesar do bonito documentário, têm ainda razão Walter Benjamin, para quem a singularidade da experiência estética ocorre ao vivo e à cores, até por isso, Estela marcou no chão do estacionamento um ponto privilegiado a quem quer observar a obra e a SBF de forma panorâmica. A experiência só se completa, portanto, para quem visita pessoalmente o espaço. E é nesse ponto que o mural transcende sua função decorativa, por mais que a arte possa também ser digital, apenas o seu olhar pode abrir a porta entre a poesia da arte e a curiosidade da física, entre o universo visível e o invisível.
Minidocumentário “Palco das Estrelas”
“Palco das Estrelas”
- por Estela Luz – 2025
@estelaluz.art - Realização: Sociedade Brasileira de Física @sbfisica
- Produção: Arte em Si, Vanessa Vargas @van_vargas
- Assistência: AFolego @afolego
- Documentário: Vrass77 @vras77 e Anna Bitelli @bitelliannaju
(Colaborou Roger Marzochi)