Em homenagem ao Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas, o Centro Internacional de Física (CIF) da Universidade de Brasília (UnB) realizará no dia 3 de outubro (sexta-feira), às 16:15, a palestra intitulada 

“Prigogine, Schönberg e Bohm: Impactos na Física Quântica e na física no Brasil”

apresentada pelo Prof. Ademir E. Santana (IF – UnB). O evento ocorrerá no Auditório do CIF da Universidade de Brasília, e será transmitido ao vivo pelo canal do CIF no YouTube: https://www.youtube.com/@cifunb . Maiores informações em http://www.cif.unb.br e https://www.instagram.com/cif.unb

Resumo: O objetivo do seminário é abordar aspectos em comum e os impactos de alguns trabalhos em física dos Professores Ilya Prigogine, Mário Schönberg e David Bohm. O período é o início da guerra fria, no qual algumas questões fundamentais para a física eram: o desenvolvimento da física da matéria condensada (com a física do estado sólido e a física atômica e molecular) e a física subatômica (com a física nuclear e a física de partículas elementares, que surgia). Naquele contexto geopolítico, o entendimento do significado de “quantização” e o desenvolvimento da teoria cinética, com o controle dos efeitos de temperatura e da física de plasma, eram centrais.  Prigogine, com o chamado grupo de Bruxelas, na Universidade Livre de Bruxelas (ULB) desenvolve o conceito de complexidade e de dinâmica de correlações (clássica e quântica não relativísticas) para tratar em especial do problema da teoria cinética quântica, com aplicações em plasma; ganha o Nobel em química em 1977. Schönberg, em 1948, vai trabalhar no grupo de raios cósmicos na ULB; já era famoso internacionalmente por seus trabalhos sobre o assim conhecido limite Schönberg-Chandrasekhar para as supernovas e o chamado efeito Urca (observado experimentalmente em 1987). Em Bruxelas, Schönberg interage com Prigogine e seu grupo.   Seguindo um caminho em paralelo ao de Prigogine, explora o conceito de espaço de Fock (a segunda quantização) associado à teoria cinética. Estes trabalhos tiveram impacto importante na química de reações e processos estocásticos. Além disso, em certa medida e em mais de duas décadas, anteciparam o formalismo algébrico para as teorias quânticas de campos a temperatura finita (relativísticos ou não-relativísticos) conhecido como dinâmica dos campos térmicos (em inglês: thermofield dynamics); incluso nessa antecipação está o limite clássico.   Schönberg, depois de cinco anos em Bruxelas, retornou ao Brasil em 1953. Assumiu então a Diretoria do Departamento de Física da FFCL-USP, que tinha como visitante o Professor David Bohm, vindo de Princeton. Como já apontado na literatura, a presença do Professor Bohm na USP, enquanto uma forte liderança na física internacional e recebendo visitantes de fora do país, coloca a física do Brasil na discussão mundial sobre o problema da quantização.   E em certo sentido, mas ainda pouco explorado na história da física do país, as discussões entre Schönberg e Bohm, na USP refletiam duas visões filosóficas sobre a noção de realismo físico e determinismo. Essas perspectivas estavam tocando problemas que ainda não foram completamente resolvidos, principalmente no âmbito da física atômica e subatômica, como os processos de confinamento, o problema da irreversibilidade versus reversibilidade e a natureza do conceito de emaranhamento, fundamental para novas tecnologias quânticas. Contudo, no decorrer das décadas, entre tantos avanços que surgiram, alguns estiveram sobre os pilares das perspectivas que apontavam para a noção de campo e o substrato ontológico de simetria; nisto reside, por exemplo, o conceito de álgebra-geométrica associado a quantização, como introduzida por Schönberg e explorada por Bohm e coautores, e o espaço de Fock-Schönberg intimamente conectado à dinâmica de campos térmicos e a thermofield dynamics.  A apresentação será mais historiográfica e pedagógica do que técnica, destacando os problemas ainda sem solução satisfatória na física.