Informe do FONLIFI à comunidade da Sociedade Brasileira de Física – O dia 19 de maio marca a fundação da Sociedade Brasileira de Física, em 1966, e passou a ser celebrado como o Dia do Físico no Brasil. Essa data, carregada de simbolismo e memória, evoca a luta histórica por reconhecimento científico, estrutura institucional e valorização dos profissionais da área. Hoje, quase seis décadas depois, o Fórum Nacional de Coordenadores das Licenciaturas em Física (FONLIFI) se une à comunidade científica para celebrar esse legado, mas o faz com um senso agudo de responsabilidade e urgência diante do cenário dramático em que se encontra a Educação brasileira, especialmente o Ensino de Ciências da Natureza.
A implementação do novo e, agora, do “novíssimo” Ensino Médio, sob a justificativa de promover uma maior flexibilidade curricular e protagonismo juvenil, resultou, na prática, na exclusão sistemática de conteúdos estruturantes de Física, Química, Biologia e outras Componentes Curriculares essenciais para a formação na Educação Básica. Ocorre que a inclusão de Itinerários Formativos com baixa densidade científica, elaborados muitas vezes sem o envolvimento de pesquisadores, docentes ou das sociedades científicas, vêm substituindo disciplinas históricas que foram por décadas pilares da formação cidadã. O prejuízo à alfabetização científica é concreto, medido em horas de aula perdidas, lacunas conceituais e esvaziamento do pensamento crítico. Estamos diante de um fenômeno que compromete não apenas o presente da escola, mas o futuro do país: um projeto de nação que se afasta da Ciência em um tempo que exige justamente o contrário.
Nas Licenciaturas em Física, os impactos são visíveis e preocupantes. O desinteresse dos estudantes em cursar Física (e disciplinas vinculadas às Ciências Exatas) no Ensino Médio reverbera na queda nas inscrições e matrículas nos cursos superiores, especialmente nos Cursos de Licenciatura. Nestes, a evasão se intensifica, a identidade profissional se fragiliza, e os Coordenadores de Curso, reunidos neste Fórum, acompanham cotidianamente a angústia de formar professores que ingressam em salas de aula cada vez menos receptivas ao conhecimento científico. Trata-se de um ciclo vicioso: menos Física na escola básica gera menor procura pelas Licenciaturas (e engenharias), o que gera menos professores formados, agravando a escassez docente e perpetuando a invisibilidade da área nos currículos escolares.
Diante dessa realidade, o FONLIFI defende, com firmeza e convicção, a urgência da recomposição dos currículos escolares, com a reintegração de conteúdos de Física fundamentais para a compreensão do mundo natural, literalmente de uma Física conteudista, e para o desenvolvimento de competências cognitivas e sociais. A defesa da ciência não pode ser seletiva nem optativa: ela é parte constitutiva do direito à educação de qualidade e da formação de uma cidadania plena. Ao mesmo tempo, é necessário recompor os orçamentos das Universidades, Institutos Federais e agências de fomento, de modo a garantir condições materiais e simbólicas para a formação de professores: laboratórios, bolsas de permanência, iniciação científica e estrutura de estágio supervisionado não são acessórios, antes são pré-requisitos para a qualidade formativa. Soma-se a isso a necessidade inadiável de valorização da carreira docente, com políticas públicas que tornem a Licenciatura em Física atrativa, viável e respeitada, bem como todas as demais áreas das Licenciaturas.
Neste 19 de maio, é preciso reconhecer que celebrar a Física significa também protegê-la, defendê-la e reconstruí-la. A SBF, desde sua origem, foi espaço de articulação científica, mobilização política e afirmação institucional da Física brasileira. O FONLIFI, como instância representativa dos Coordenadores das Licenciaturas em Física, soma-se a esse legado com compromisso público e espírito propositivo. Propomos a criação de uma mesa nacional permanente de acompanhamento curricular, com participação efetiva das sociedades científicas, dos fóruns de coordenadores e das redes de ensino, para que as reformas educacionais não mais ocorram de forma verticalizada e descolada da realidade das escolas, dos cursos de formação e da Ciência que se pretende ensinar.
Não há desenvolvimento sustentável, soberania tecnológica ou transição energética sem Educação Científica robusta. E não haverá Educação Científica sem a presença consistente da Física nas escolas e sem professores formados com qualidade, condições de trabalho adequadas e reconhecimento social.
Por isso, neste 19 de maio, que nossas homenagens aos físicos e às físicas brasileiras venham acompanhadas da disposição política de garantir que seus saberes, sua formação e sua atuação não sejam apartados do cotidiano escolar. Celebrar a Física é, acima de tudo, defender o direito dos nossos estudantes de compreender o universo — e transformá-lo — com base no conhecimento, na experimentação e na razão.
Birigui (SP), 19 de maio de 2025.